Blog: A Arte de Elia Kazan – Um Rosto na Multidão
Da fama à destruição, Um Rosto na Multidão é uma obra-prima dramática centrada em Larry “Lonesome” Rhodes (Andy Griffith em seu papel de estreia), um vagabundo que é descoberto por uma produtora (Patricia Neal) de um programa de rádio no Arkansas. De guitarrista itinerante sem relevância e reconhecimento a agitador da mídia nacional e estrela da televisão, Lonesome Rhodes ganha o público com sua voz única e personalidade carismática marcante; mas conforme o homem vai recebendo mais audiência, patrocínio e se firma como um astro influente, criando laços com políticos e demais pessoas da alta sociedade, mais ele se torna destrutivo e uma figura detestável, diferente de sua persona televisiva.
Recebido com críticas mistas na época de lançamento, Um Rosto na Multidão é um exemplo de filme que parece funcionar muito melhor nos dias atuais do que quando fora produzido – o que não significa, porém, que nos anos 1950 a temática não fosse pertinente. Acontece que quase 70 anos depois, esse reflexo de ascensão midiática astronômica foi potencializada com o crescimento das mídias digitais. Hoje, um anônimo pode ficar conhecido a cenário nacional (e internacional!) “do dia para a noite”, e se ele não tiver a cabeça no lugar, a fama pode não apenas corrompê-lo, mas sufocá-lo – e do mesmo lado da moeda, uma fala sua, seja recente ou antiga, pode vazar e te transformar num vilão.
Marcia Jeffries, a produtora que descobriu Larry, se apaixona pelo rapaz, mas deixa de ser correspondida e percebe o monstro que ele virou. A saída que ela encontra é mostrar ao público a verdadeira face de Lonesome Rhodes, que despeja sua mediocridade à audiência enquanto reclama sem saber que o microfone estava ligado. Aproveite o lançamento deste clássico em versão recentemente restaurada e surpreenda-se com esta fascinante crítica à idolatria desenfreada. Garanta o seu exemplar.
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Texto por: Pedro Degobbi